Língua e Construção de Realidades
No 10º encontro online dos Elos de Carlotas, tivemos a oportunidade de refletir sobre o poder da linguagem na construção das realidades que habitamos. Com a presença da Dra. Jorcemara Cardoso, que iniciou sua fala com a potente frase “é possível um outro futuro por meio da linguagem“, fomos convidadas a questionar a naturalização de discursos. Essa frase não apenas inaugura um horizonte de esperança, mas também nos convoca à ação: qual futuro queremos construir e como a linguagem pode ser nossa aliada nesse processo?
A discussão começou pela compreensão do termo ‘político’, que vai além de partidos e se refere às nossas posições no mundo. Assim sendo, a linguagem é política, pois ela nos atravessa e nos constitui como sujeitos, moldando relações de poder e produzindo saberes, reforça Jorcemara. Mais do que um instrumento de comunicação, ela é constitutiva, ou seja, não existimos fora dela, assim como ela não existe sem nós.
A linguagem não apenas reflete a realidade, mas a constrói continuamente. Como enfatizado na discussão, “não existe sujeito sem linguagem, nem linguagem sem sujeito”. É na interação entre osfalantes e os discursos que emergem novas formas de pensar, sentir e agir. Isso significa que a maneira como nos expressamos não é neutra, mas carrega consigo ideologias, hierarquias e possibilidades de transformação.
Nesse contexto, a ‘disputa de linguagem’ se torna um campo fundamental de resistência e transformação. Quem define as palavras, os conceitos e os significados que circulam socialmente também define o que pode ou não ser reconhecido como verdade. O cenário sociopolítico global nos mostra uma produção singular de realidade que é interpretada como universal, silenciando outras formas de existir e perceber o mundo. Essa dinâmica está profundamente enraizada na hegemonia histórica de certos discursos, que determinam quais vozes são ouvidas e quais são marginalizadas.
Michel Foucault, em “Por uma vida não fascista”, nos alerta sobre os perigos dos discursos autoritários que, ao se naturalizarem, impedem a criação de novas possibilidades de existência. Para Foucault, o poder está intrinsecamente ligado ao saber e à linguagem, operando em redes que definem as condições do que pode ser dito e compreendido. Precisamos, portanto, questionar os sentidos fixados e ocupar nossos próprios espaços de criação política. A linguagem é um campo de disputa, mas também de invenção e liberdade. Ao ressignificarmos palavras e discursos, estamos construindo realidades mais plurais e justas.
O encontro reforçou que, se a realidade é mediada pela linguagem, então também podemos transformá-la ao intervir nos discursos que nos atravessam. Que futuro queremos construir? E, mais importante, como podemos criar um vocabulário que dê conta dessa transformação? Essas são questões que seguimos elaborando juntas, com a certeza de que a linguagem é um campo de luta, algo que vai além de conquistas individuais, mas também de potência infinita.
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Literatura
A linguagem fascista, Carlos Piovezane e Emilio Gentile
Por uma vida não fascista, Michel Foucault. Leia o texto clicando aqui
Vídeos
Gravação do Encontro